sexta-feira, 1 de março de 2024

[7607] Mais um artigo de Joaquim Saial na TURIMAZINE - Fevereiro.2024 (excerto)


[7606] Mais um artigo de Joaquim Saial na TURIMAZINE - Janeiro.2024 (excerto)


[7605] Mais um artigo de Joaquim Saial na TURIMAZINE - Dezembro.2023 (excerto)


[7604] Era Dezembro de 1971 e havia festa no Madeiralzinho

[7603] Cabo Verde, um país livre, raridade em África

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[7602] Germano Almeida, sempre lúcido!

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[7601] O retorno do Praia de Bote

Praia de Bote não acabou, nem acabará nos próximos 782.908 anos... Parou uma temporada, porque o seu proprietário teve uma série de textos para escrever, fora outras actividades profissionais e particulares (e não só) que o desviaram da melhor praia do mundo. Eis-nos, pois, retornados!



sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

[7592] Lembrar Amílcar Cabral em Lisboa (Associação Caboverdeana)


A ACV, tem o prazer dos vos convidar para Início das Comemorações do Centenário do Nascimento de Amílcar Cabral.

𝐑𝐞𝐜𝐢𝐭𝐚𝐥 𝐝𝐞 𝐏𝐨𝐞𝐬𝐢𝐚 𝐞 𝐌ú𝐬𝐢𝐜𝐚
𝐌𝐞𝐬𝐚 𝐑𝐞𝐝𝐨𝐧𝐝𝐚:
A vida, a Obra e o Pensamento de Amílcar Cabral
𝐎𝐫𝐚𝐝𝐨𝐫𝐞𝐬:
Hans-Peter Heilmair
José Luís Hopffer Almada
Tony Tcheka
𝐌𝐨𝐝𝐞𝐫𝐚𝐝𝐨𝐫𝐚:
Dulcineia Sousa
𝐂𝐨𝐧𝐯𝐢𝐝𝐚𝐝𝐨 𝐄𝐬𝐩𝐞𝐜𝐢𝐚𝐥:
Doutor Domingos Simões Pereira
Presidente do PAIGC (Guiné-Bissau) e Presidente da Assembleia Nacional Popular da República da Guiné-Bissau.
𝐏𝐨𝐧𝐜𝐡𝐞 𝐝𝐞 𝐇𝐨𝐧𝐫𝐚
A sessão terá lugar no próximo dia 19 de Janeiro de 2024 (Sexta-feira), pelas 18h30 nas nossas instalações (Rua Duque de Palmela, nº 2, oitavo andar, ao Marquês de Pombal)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

sábado, 6 de janeiro de 2024

[7580] De Adriano Miranda Lima, um poema especial


EVOCAÇÃO DA PRAÇA ESTRELA

(Mindelo, S. Vicente de Cabo Verde)


Viajar à memória da antiga Praça estrela é varar o tempo

à procura de mantras que se dissolveram

mas que permanecem flutuando entre o vazio e o silêncio.

Oscilam entre a pulsão dos astros e os confins da mente,

representam épocas diferentes e exalam reminiscências 

da salsugem proveniente do campo da antiga salina 

onde se disputaram renhidos jogos de cricket entre

equipas de mindelenses e ingleses residentes.


Uma estrela deu-lhe o nome e quem sabe

o signo de libertar a alma do povo mindelense

e de vazar os desvarios ocasionais da gente anónima.

Bela no seu exotismo, tem a sedução da maresia,

o dilecto perfume que a brisa lhe esparge

sobre as palmeiras e acácias da sua vaidade.

Aqui chego precisamente à hora do sol poente,

quando o rebuliço da cidade começa a abrandar.


Os Sokols desfilaram há pouco nas imediações,

perfumando a cidade com a pompa dos seus ideais.

No ar paira ainda a estridência dos seus clarins 

Que espalharam vibrações de alma 

no deserto de fortuna onde florescem utopias. 

A maré começara a vazar nas praias vizinhas

onde os botes repousam o seu cansaço

na ânsia de um chamamento longínquo.


O veludo da noite é cada vez mais espesso 

e nele mergulham fundo os meus sentidos.

Sou refém de uma vertigem indecisa,

animado de urgência para sondar o invisível

e encontrar o veio de luz que tudo trespassa.

O rumor da cidade é um eco já em cadência esmorecida

que doravante só é audível no interior de búzios inertes

espalhados pela ourela do mar e suas proximidades. 


Sinto palpitar ansiosamente o coração da noite, 

que se predispõe a todas as fulgurações da fantasia.

Ouço a espaços gemidos de rabeca sulcando o ar, 

que o vento sacode em perdulária diversão,

como que despeitado pelo virtuosismo alheio.

Há notícias de um baile do clube Amarante,

e para lá caminham raparigas de língua de prata

e saia plissada agitando-se ao sabor da brisa.


Nada surpreende ou frusta a expectativa

de quem percorre os meandros da noite.

Homem embriagado dialoga com a sua sombra 

num esforço inútil para espantar a sua solidão.

Pouca atenção merece de dois namorados 

colados à penumbra de um banco de jardim

sob o olhar cúmplice da lua feiticeira,

testemunha solitária das suas almas cativas.


Na Praça Estrela a noite adormece mas não dorme,

e nela há recantos para todos os devaneios.

Sabem-no os marinheiros que esperam pelas marés

em botequins forrados de recolhimento.

O grogue e a moreia frita estimulam o seu ânimo

e à luz mortiça as suas vozes diluem-se em burburinho. 

Os seus pensamentos vogam na crista das ondas

em demanda de um porto feliz na terralonge.


Um galo da vizinhança acaba de cantar. 

As pontas de cigarro começam a empalidecer 

e já não são os minúsculos faróis das rotas vadias. 

Os gongons da minha meninice esfumam-se 

e são levados sorrateiramente pela brisa do mar 

ficando-me o hálito frio e assustador da sua presença. 

O apito de um vapor quebra bruscamente o meu pasmo 

e a aurora exorciza finalmente o sortilégio da Praça. 


Vultos difusos de trabalhadores do carvão 

atravessam a agora a praça em movimento furtivo,

mal se distinguindo nas suas vestes enfarruscadas.

Nas suas marmitas é avaro o alimento do dia

mas é onde sobra o alento para outras madrugadas.

As estrelas começam a desmaiar no seu leito celestial

despedindo-se com promessa de voltar a incendiar 

o silêncio e sondar os abismos da alma humana.


As sombras extinguiram-se aos primeiros alvores

e tudo em redor retoma o seu contorno real.

O que fora flutuação vaporosa diluída em meia-luz 

transmuda-se agora em figura nítida

das cenas diurnas da hora solar.

Rumores vindos do porto e das ruas próximas 

repercutem-se agora por inteiro no coração da praça

e engrossam a corrente viva do quotidiano.


É hora de me despedir. Faço-o com a nostalgia 

do viajante que deixa o coração ancorado em cada lugar.

A Praça Estrela regurgitou a emoção da noite anterior   

e está de regresso à sua perene realidade. 

É seu destino ser palco de comédias e paixões, 

nem que seja por um breve instante de devaneio. 

Levo no íntimo a emoção da noite estonteante,

filha de uma estrela esculpida na alma do povo. 




[7579] Sem palavras

[7578] Sem palavras


[7577] Sem palavras

[7576] Um facebook a ver e a colocar nos favoritos, tal como o Pd'B: o Cape Verdean Museum de Pawtucket, Rhode Island, EUA

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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

[7565] Um conto de Natal para a ilha de S. Nicolau, pela escritora e poetisa cabo-verdiana Maria Helena Sato residente em S. Paulo, Brasil

Um sonho de Natal na Ilha de São Nicolau

Há muitos e muitos anos, quando no mundo pouco se ouvia falar em Papai Noel, Pai Natal ou Santa Claus, as crianças ganhavam brinquedos feitos de barro e folhas de bananeira no dia de Natal. Querem outros crer que Papai Noel já existia, só que não viajava em renas nem tinha uma roupa vermelha e botas quentes, mas usava um pequeno barco que percorria todas as ilhas e continentes em uma noite apenas. Por isso, contavam os mais antigos, a noite de Natal era sempre noite de vento. No entanto, era uma noite de paz. Assim, para simbolizar a paz na natureza, tornou-se hábito trazer uma árvore para dentro de casa e enfeitá-la, resguardando-a da ventania que Papai Noel, na correria, provocava. Tudo isso para festejar a grande festa do Menino Jesus! 

Daquele tempo resta, porém, fraca memória. Fala-se muito mais da época em que Papai Noel começou a espalhar sonhos, desejos e brinquedos pelo mundo. Foi então que ele passou a procurar um lugar onde pudesse guardar parte dos presentes de Natal. Não que ele quisesse deslocar do Pólo Norte a sua grande Central de Brinquedos, mas porque, com a crescente população do mundo, fizera-se necessário ter uma base perto do hemisfério sul, que facilitasse o transporte de presentes para o mundo inteiro. 

Duendes encarregaram-se de buscar o melhor lugar para o grande depósito no sul. Decidiram que deveria ser um canto isolado, para que não fosse descoberto facilmente: nem por adultos, que logo inventariam impostos e tornariam mais caros os brinquedos, nem por crianças, a fim de que não perdessem a surpresa dos presentes que encontrariam na noite enfeitada pela Grande Estrela de Belém.

Debruçados sobre o mapa mundi, os duendes do Pólo Norte indicaram um pequeno ponto. Ficava entre outros nove. Fizeram cálculos e recomendaram a Santa Claus que adotasse como Depósito uma montanhosa ilha, de 388 m2, cuja população era alvo de frequentes ataques de piratas. Prontamente, Santa acedeu.

Logo chegaria o Natal. Duendes de calção vermelho e camiseta verde passaram a circular pelos ares, alegres como a brisa. Sua pele muito clara logo ficou bronzeada, pois trabalhavam o dia todo para montar as novas instalações. Santa Claus em pessoa veio na noite de Natal inaugurar o novo depósito, que passaria a chamar-se Central Sul. A seu pedido, o local foi iluminado por estrelas. No seu coração bondoso, o maior presente para todos seria a Alegria! Em todas as casas, no sorriso das crianças, no olhar de cada família!

Não se sabe como: mesmo sem qualquer divulgação da presença de Santa e seus ajudantes na ilha, todos sentiam algo mágico no ar. E nessa noite houve fogos de artifício e música no coreto da praça.

Por alguns anos, os duendes do sul trabalharam incansavelmente. Contudo, foram aos poucos rareando, pois havia cada vez menos crianças esperando que chegassem. Deixaram de receber cartas e já não sabiam o que cada um dos pequeninos desejava ganhar. Parecia que a magia estava sumindo do mundo. Um dos duendes inventou uma caixa de mágicas e naquele ano quase todos os meninos e meninas em idade escolar ganharam uma de presente. Mas isso não foi suficiente para restaurar a esperança de ver o impossível, nem o entusiasmo de fazer algo novo.

Foi justamente nessa altura que um navio clandestino deixou escravos na ilha, sem poder prosseguir com eles para o continente americano, onde era intenção entregá-los a comerciantes. O choro dos pequeninos, os lamentos da escravidão e os maus tratos sofridos fizeram com que os duendes lhes dessem pronta atenção, abrindo-lhes as portas do grande armazém. Esperando atenuar o sofrimento desses novos moradores da ilha, os duendes ofereceram-lhes roupas, canções e iguarias. Naquela noite, o luar brilhou intensamente. E até mesmo animais da vizinhança vieram acolher os recém-chegados.

A partir desse ano, o Central Sul deixou de enviar brinquedos para o mundo. Passou a abrigar quem chegasse à ilha sem endereço certo a buscar. Foi o único jeito que os duendes encontraram para manterem abertas as portas do grande depósito. Jamais se revelou quem o abastecia mensalmente. A verdade é que nada faltava aos mais desvalidos.

Por outro lado, durante muito tempo, aqueles que haviam sido destinados a serem escravos, mas que a ilha tornara livres, receberam a visita de um homem bondoso e feliz que vinha tocar e cantar lindas canções nas noites de Natal. Ninguém sabia o seu nome. Da última vez, já bem velhinho, perdeu um lenço no meio das brincadeiras que fazia com a criançada. Na manhã seguinte, um menino chamado Baltasar encontrou o lenço, que trazia um nome gravado: Nicolau.

Então, a liberdade tomou conta dos sonhos de Baltasar.

(in “Caleidoscópio”, Maria Helena Sato)