domingo, 20 de março de 2011

[0048] Eden-Park, a saudade que fica e alguns documentos para a posteridade

(clique nas imagens)

A história de hoje é longa e curta ao mesmo tempo.

É culturalmente longa, porque o Eden-Park foi de facto um demorado segundo pai de cultura e sabedoria mas também de divertimento para muitas gerações de cabo-verdianos (incluindo aqueles que não o souberam preservar e que ficarão com esse anátema colado à pele para todo o sempre, já que a História não perdoa). A riquíssima influência do Eden-Park está muito bem contada no documento que aqui se divulga. Sabe-se lá quantas sentidas lágrimas foram vertidas pela sua autora durante a escrita do mesmo e portanto... também é curta porque tanto eu como diversos outros (entre os quais obviamente se conta a última guia dos destinos daquela casa) fizeram o que puderam para que o crime não se consumasse. Infelizmente, não conseguimos alterar as espirais do destino. Perdemos. Os sanvicentinos perderam. Todos os cabo-verdianos perderam... Ita missa est. Ponto final.

(clique na imagem)
Mas há sempre algo que fica. Eu detenho alguns sinais; outros terão outros. Divulguemo-los, para que a memória se consolide e as novas e futuras gerações possam estigmatizar os criminosos culturais que tal malvadez fizeram. Que sinais tenho eu, então?
(clique na imagem)
Comecemos por Julho de 1999. Três bilhetes. Todos de matinés de "filmes de porrada" em que em cada um não havia mais que três ou quatro espectadores (um deles, aqui o PRAIA DE BOTE). Três espectáculos, mais ou menos doze bilhetes vendidos. Digamos assim, para que a culpa não fique totalmente solteira - que não está, de facto - que das lágrimas pingadas pelo Eden-Park muitas foram de crocodilo. É que sem espectadores não há cinema que resista...

(clique na imagem)
O convite para o espectáculo do Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra foi-me oferecido pela Dr.ª Ana Cordeiro, estimada e diligente directora do Centro Cultural Português, pólo do Mindelo. Apetecido espectáculo para ela, sobretudo, dado que o pai estava entre os orfeonistas presentes. E uma outra figura, das maiores da música de Cabo Verde, o convidado Ildo Lobo, que terá pisado talvez pela última vez palcos do Mindelo. Foi delicioso vê-lo cantar com aqueles veteranos de Coimbra, salvo erro "Tchapéu di Padja". Eram os tempos da vigência de Onésimo Silveira à frente da Câmara Municipal de S. Vicente. Caso curioso, no final do espectáculo, como é tradição da "Briosa", os orfeonistas chamaram ao palco os antigos estudantes de Combra presentes na sala. Um dos que subiram foi a actual presidente, Isaura "Zau" Gomes... Acompanhou-me nessa noite, a D. Zinha Lima, grande amiga e professora competentíssima de múltiplas gerações de santantonenses e sanvicentinos.

(clique na imagem)

(clique na imagem)
Passemos a 2002. Um só bilhete, que a minha passagem pela ilha foi curta, de apenas quatro dias, para lançamento de livro - coisa repetida noutros quatro de Praia. Na altura tinham ido comigo a esposa e a filha do Germano Almeida, a Íris. Os 300 paus foram aplicados num dos filmes da saga "Senhor dos Anéis" (repare-se que o preço dos bilhetes não aumentara de 1999 para 2002). Tratava-se também de uma matiné e o Eden-Park estava à cunha. Foi em 31 de Março de 2002, a minha última passagem pelo saudoso cinema do qual assim me despedi em apoteose, vendo-o cheio como nos velhos tempos. Só faltou a mancarrinha que não vi nenhuma mulher a vendê-la nem à entrada nem à saída.

Aqui ficam portanto algumas memórias com que o PRAIA DE BOTE saúda o mais famoso cinema de Cabo Verde, a família que o sustentou tantos anos e as geraçõs que do local tiraram proveito, muito bom proveito...

NOTA FINAL: O documento produzido pela Sr.ª D. Maria Luísa Marques da Silva chegou-me através do sempre amigo Valdemar Pereira que o recebeu do Djibla ao qual por sua vez foi entregue pela autora com a condição de este só o divulgar quando todo o processo Eden-Park estivesse concluído, o que só recentemente aconteceu. Ao Val agradecemos a partilha e lamentamos tanto quanto ele a desgraça: meu velho, Eden-Park já ca tem teatre...

Sem comentários:

Enviar um comentário

Torne este blogue mais vivo: coloque o seu comentário.