segunda-feira, 21 de março de 2011

[0049] Alemão proveniente de Cabo Verde, aprisionado no mar da Madeira durante a II Guerra Mundial, suspeito de espionagem...

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Chamava-se Reinhard Georg Paul, o sujeito. Viajava ele havia dois dias, num barco português, partido de S. Vicente, quando este foi abordado por um outro, de nacionalidade francesa, o homem aprisionado e supostamente enviado para um campo de concentração.

Perguntas: como sabiam os frenchies que ele ali ia? Quem forneceu, a partir do Mindelo, a notícia? Foi obra do acaso ou alguém do consulado inglês (haveria também consulado francês?) deu com a língua nos dentes? Seria o Reinhard mesmo espião? Vindo da Libéria para S. Vicente e levado do mar da Madeira para um campo de concentração, que segredos esconderia?

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Está ainda por fazer a história da espionagem a que um porto como o Grande - por onde muito trânsito de passageiros se desenvolvia -, deu decerto vida durante a II Guerra Mundial. Que terá depois acontecido ao boche? Afinal, só ainda estávamos em Fevereiro de 1940. A guerra estava apenas no início. A  cidade de Paris seria ocupada em breve, a 14 de Junho...

A notícia por nós hoje desenterrada é do vespertino português "Diário de Lisboa", de 8 de Fevereiro de 1940. E aqui fica, para deleite dos nossos leitores, como muitas outras das centenas que temos e que por aqui aparecerão a seu tempo.

10 comentários:

  1. Que terá acontecido ao boche? Pergunta bem o bloguista Joaquim Saial, que nos traz este episódio da espionagem da II Guerra Mundial. S. Vicente não seria propriamente uma "Casablanca", mas na ilha haveria por certo alguns nós de ligação das redes de espionagem dos contendores. Um porto importante do Médio Atlântico, no cruzamento das rotas entre a Europa, a África e a América do Sul, tinha de ter o seu papel, ainda que pequeno, no jogo de informações, contra-informações, intrigas, dissimulações, ardis, manobras de decepção e tudo que compreende o mundo secreto da espionagem.

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  2. Não seria uma Casablanca nem havia um Rick's
    Caffe e muito menos se ouviria dizer "Play it again Sam", mas em muitos botequins de odorífero cheiro grogal se terão passado mensagens e informações estranhas e secretas...

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  3. Pois é amigo Adriano. Nós também tivemos espiões em casa e ainda não enxergavas nadinha, meu Caro Amigo. E tivemos muita sorte porque atravessávamos horas amargas e não fossem os relatórios de um desses "homens de sombra" pior veríamos.
    Era a Segunda Guerra quando chegaram a S.Vicente dois "honorables" que se instalaram na Western, onde recebiam as ordens superiores e de onde mandavam tudo quanto deviam aos seus Chefes dos MI's, via cabo submarino.
    Criança, via com muita curiosidade que, sempre que chegava um barco aliado, um marinheiro desembarcava e ia ao Telegraph com uma caixinha metálica que entregava ao meu Pai, o qual desaparecia ali dentro. O estrangeiro ficava ali de stand by até que o meu progenitor voltasse a entregar-lhe a dita cuja que ele levava de volta sem dar pio. Não tenho ideia de os verem-se cumprimentando ou despedindo.
    Curioso como toda a criança, um dia perguntei ao Pai o que significava aquele ballet que se repetia a cada vez que aportava um barco aliado e a resposta foi um rápido "cala a boca!".
    Pouco tempo depois, tive o direito de saber quem ali se escondia: - Mr Kirby e um seu adjunto e que na caixinha estava a rota que os barcos deviam tomar para não serem torpedeados pelos submarinos alemães que andavam por esse Atlântico fora. Mas confesso que alguns não foram longe porque afundados sem nenhum respeito pelos limites marítimos. Isso foi provado por recebermos alguns náufragos esfaimados e/ou feridos que, na primeira oportunidade, regressavam.
    Mas o que "bons serviços" prestou à terra foi um Cônsul, homem de certa idade, que ali fora enviado como Representante de Sua Magestade Britânica. Captain Sands, de seu nome, tinha a particularidade de ser o chofer do seu mordomo, Nhô Ludgero, menos velho, sempre bem vestido de fato escuro, com chapéu de feltro e o guarda-chuva very british do senhor Sands que não gostava de sol na cabeça. É que Nhô Ludgero não sabia conduzir o Ford Anglia do patrão, que morava na Matiota e precisava deslocar-se
    Apareciam os dois todos os dias à porta da WTC, onde o Cônsul apeava para falar com o Hermínio. Queria saber o que se passava com a população, o moral, como era possível viver com necessidade de tudo, etc.
    Uma vez as coisas iam mesmo más; não havia milho, não havia outros géneros alimentícios e o povo não sabia a que santos recorrer. Tudo estava parado e nas ilhas muita gente morria de fome.
    Ainda hoje poucos sabem como é que um barco, relativamente novo, sob o comando de gente experiente, foi encalhar num lugar acessivel, Praia Formosa, na Ilha de Santo Antão. Houve logo moia. O Captain Sands "sabia" o que ia acontecer.

    Nota: - A estória já foi contada numa outra versão - a oficial - e é escusado aparecer historiador disfarçado a dizer que tudo é mentira

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  4. Comentário de João Manuel Nobre de Oliveira (Macau)

    ....................

    Ouvi contar algo sobre um alemão que se passeou por Cabo Verde fazendo desenhos da costa e que quando apanhou um barco para sair das ilhas
    rumo a Dacar este foi interceptado no alto mar por um vaso inglês e o dito alemão teria sido fuzilado ali mesmo.

    História contada por marinheiros do barco (um veleiro) que o levava. Seria ele um espião que tomava notas de possíveis locais de desembarque? Ou será este espião o mesmo que foi apanhado na Madeira e tudo que ouvi foi história de marinheiros?

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  5. Grandes comentários que muito honram o PRAIA DE BOTE.

    Agradecimentos da praxe.

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  6. a). - Esclarecimento.
    Pelo telefone, um bom amigo meu me interrogou sobre o facto de eu ter dito na estória anterior que o Captain Sands "era o chofer do seu mordomo". Claro que isso foi "brincadera d'mnine buzode" e, antes de abordar outro caso, quero deixar explicito: - Com a categoria e a idade, o inglês podia ter um condutor mas, já pela distância que tinha de percorrer num lugar sem muito movimento, já porque Nhô Ludgero não sabia conduzir, Captain Sands lá se ia safando muito bem com o seu carrinho de duas portas.
    A brincadeira veio porque, quando paravam, Nhô Ludgero saía do lado direito do carro, dava a volta, abria a porta ao patrão (no lugar do condutor), esperava que ele saísse para fechar a dita. Depois a cena se repetia em sentido inverso e o Captain/Cônsul continuava o caminho até o Consulado na casa em frente do célebre pássaro ao pé da antiga Alfândega.
    Acrescento também que esse homem, sombra do inglês, era o criado que estava o dia todo com o seu chefe, servia o pequeno almoço, fazia de continuo, ia buscar o wiskhy e tudo mais que necessário fosse até ir dormir à sua casa, vizinha da do seu patrão na Matiota/Chã de Alecrim.


    b). - Estória de hoje.
    Passo agora a assinalar mais uma "história de espionagem" onde entra alguém que trabalhava na Western Telegraph C° em S.Vicente, morando ali dentro no pavilhão dos solteiros, durante a Segunda Guerra Mundial.
    Era um funcionário inglês detestado porque se metia em atritos com todos os funcionários locais, fossem eles telegrafistas, pessoal menor ou mesmo suas próprias (duas) criadas. Nunca esqueci a figura desse homem cujo nome - Rondon - deu azo a que o chamassem "Ronha".
    A antipatia era tamanha que a companhia resolveu mandá-lo para a casa mais cedo do que era previsto, num barco da CUF que, excepcionalmente, escalou as Ilhas Canárias onde, em Las Palmas, deixou qualquer coisa que vinha da Guiné.
    Depois do descarregamento, o barco tomou a sua rota para Lisboa mas foi imediatamente interceptado, fora dos limites territoriais marítimos, por um barco de guerra alemão que "só queria o inglês que tinham a bordo". E foi assim que o detestado terminou a guerra num campo de concentração.
    Pergunto se uma das criadas não lhe teria deitado uma praga daquelas que as "bocas de ciré" deitam às pessoas, em jejum para pegar mesmo !
    Foi com grande alivio que se soube na WTC da noticia que ele mandou enviar dizendo que "lamentava ter perdido uma mala".
    A mala era o correio (já lastrado) que os homens dos MI's (Mr. Kirby & C°) enviavam para Londres e que ele pode ainda mandar borda fora antes de ser "catchide na meie de mar".
    Mesmo os não simpatizantes do "Ronha", tiveram pena porque sabiam que ali ele ia pagar mais do que fez. Mas Rondon nunca foi espião de coisa nenhuma. Espião era muito para tão antipática pessoa.

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  7. Ola, Val.
    No outro dia falando com a minha irma Giosanna ela contou-me que o meu pai lhe tinha dito que, no periodo em que trabalhava na Western Telegraph, teve uma discussao com um tal ingles ( nao sabia o nome ) que era uma pessoa ma e antipatica e acabou por lhe dar um soco. Fiquei a pensar se nao seria o tal " Ronha " que te referes no teu texto...
    Mantenhas, Fernando

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  8. Viva Nando.
    E' bem possivel que seja mas não tenho me lembro do teu pai no Telegraph pois era menino. Relativamente aos inglêses da WTC houve ali muito boas pessoas das quais espero poder falar e houve outros desastrados (até racistas) que nunca foram aceites. Se o Ronha foi campeão, cheguei a trabalhar com um deles, grande tenista e bom futebolista mas sujeito impossivel de viver, que tratava os cabo-verdeanos mais baixo que terra.
    Nem todos foram bons como que a dizer "não hà regra sem excepção".

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  9. Estávamos no Verão de 1942 e o meu pai resolve inesperadamente viajar para Lisboa para tratar de assunto urgente. O único barco disponível na ocasião era o velho cargueiro português "Cabo Verde", no qual à falta de outro o meu pai resolveu seguir viagem. Umas três semanas após o seu embarque, a minha mãe recebeu carta do meu pai a contar-lhe as peripécias da sua viagem a bordo do "Cabo Verde", que no caminho para Lisboa e já perto da ilha da Madeira tinha sido interceptado por um submarino alemão. Conforme contou o meu pai, apesar do mau tempo e do mar agitado, tudo ia normal a bordo quando de repente aparece-lhes pela frente o submarino que dispara um tiro de aviso para o barco parar, tiro que quase ia acertando na proa do "Cabo Verde". Em pouco tempo e com o "Cabo Verde" já à deriva, parte em sua direcção um escaler do submarino com marinheiros armados de metralhadora, que subiram logo a bordo dando ordens para que todos abandonassem o barco, o que foi cumprido sem mais querelas, tendo a tripulação e os dois únicos passageiros, o meu pai e um oficial do Exército, se acomodado no único salva-vidas que havia, um salva-vidas velho e que metia água por todos os lados. O que lhes valeu foi um chapéu de feltro - na época muito usados - que o meu pai tinha levado consigo e com o qual esgotavam a água que entrava. Segundo o relato, o capitão estava simplesmente aterrorizado e a chorar sentado no fundo do salva-vidas "oh minha mãezinha, oh minha mãezinha", o que obrigou o meu pai a perguntar-lhe energicamente se ele não tinha vergonha de estar a portar-se como uma criança, tendo o oficial respondido a soluçar "que tinha seguido a carreira militar para ganhar a vida, mas que ele não era homem para guerras". Ante este estado de coisas, o meu pai é que tomou o leme, assumindo o comando do bote. Longe de terra e com o mar revolto como estava, se o submarino resolvesse afundar o "Cabo Verde", pereceriam todos. Mas após os alemães terem feito uma vistoria completa ao barco e de não terem encontrado nada do que procuravam, abandonaram o "Cabo Verde", ordenando ao capitão que podiam voltar para o navio, advertindo-o, entretanto, para não tentar usar o aparelho de telegrafia de bordo, que então o navio seria afundado. Conforme o meu pai, o capitão do barco ficou tão assustado que a primeira coisa que ele fez quando subiram a bordo foi destruir completamente o aparelho de telegrafia. À chegada a Lisboa, uns dias depois, a primeira pessoa que o meu pai encontrou no cais foi um agente do Serviço Secreto inglês que ele já conhecia de São Vicente, a quem ele imediatamente pôs ao corrente do encontro com o submarino. O inglês não quis ouvir mais nada e desapareceu. Poucos dias mais tarde, encontrou-se com o meu pai a quem informou que fora afundado um submarino alemão perto da ilha da Madeira, que pelas deduções do meu pai não poderia ser outro senão o submarino que os tinha interceptado. Foi só aqui na América que o meu pai me revelou da sua ligação com os Seviços Secretos Americanos durante a 2ª Guerra Mundial, em Cabo Verde. Lembro-me perfeitamente de que o então cônsul americano em São Vicente, o senhor Colinsky, oficial da Marinha de Guerra, fazia-lhe frequentes visitas em nossa casa, mas nunca soube do que tratavam. Do que também me lembro é que o meu pai tinha um livro no seu escritório, cujo título era "A campanha da Finlândia" e que muito mais tarde, se não me engano também aqui na América, revelou-me que continha o código que ele usava nas suas comunicações com os Serviços Secretos. Aliás, ele revelou-me ainda a existência de uma estação telegráfica secreta no Mato Inglês, em São Vicente, de que ele também fazia uso nas suas comunicações. Lembranças interessantes que não vejo razão nenhuma para não incluí-las nestas memórias.

    "A minha vida"
    Donaldo M. Wahnon
    Printed on January 27, 2006
    Akron, Ohio
    USA

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  10. PAZ à alma do meu amigo Donald Wahnon.
    Do que transcreve o "anónimo" dou fé. Muita gente sabia que o seu ilustre Pai, sr. Jonas Wahnon, foi um "respeitável correspondente" dos Aliados. A única coisa que desconhecia do relato era a existência de um código, o que demonstra a confiança que para com ele tinham e a sua coragem para fazer tal serviço quando se sabia as preferências de Salazar.
    Lembro-me também, sem pormenores, de outro patrício que fazia a mesma coisa mas pela Axe e quano caçado, para não haver "escândalo" transferiram-no para um outro arquipélago onde faleceu muitos anos depois. Esse utilizava o método Morse, a partir de João Ribeiro, para dar informações aos submarinos alemães. Alguns dos meus contemporâneos, inclusive seus sobrinhos, devem-se lembrar.

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