quarta-feira, 27 de julho de 2011

[0070] O "Guiné" em S. Vicente, durante a II Guerra Mundial

Valdemar Pereira
O nosso colaborador Valdemar Pereira, ao remexer na papelada que lhe enche a casa, deu com um montão de materiais por si simpaticamente cedidos ao PRAIA DE BOTE que mais uma vez lhe agradece o gesto de gentileza.

Um deles é uma foto do "Guiné", um dos muitos navios da Companhia Colonial de Navegação (CCN), frente ao Monte Cara.

Durante a segunda guerra mundial, e porque os submarinos alemães que sulcavam o Atlântico em matilhas raivosas prontas à caça de navios não olhavam a gastos e enviavam tudo para o fundo, os barcos nacionais punham os nomes e as bandeiras, bem à vista, como aqui se pode ver. Mais valia prevenir que remediar, pois embora Portugal fosse neutral, dificuldades no visionamento da identidade dos nossos navios podiam fazer toda a diferença na hora da verdade...

Ao dar umas voltas para saber mais um pouco sobre este vapor, o PRAIA DE BOTE deu com dois factos curiosos, um dos quais atesta um dos momentos da história relativamente recente de Cabo Verde:

Segundo documentação existente nos arquivos da Fundação Mário Soares «chegam a Lisboa, a bordo do navio 'Guiné', 110 presos políticos libertados do Campo do Tarrafal na sequência da amnistia de Outubro de 1945.» O campo de concentração do Tarrafal iria no entanto sobreviver muito para além desta aparente abertura do regime salazarista no final da II Guerra, espécie de bónus cínico à opinião pública mundial.

O "Guiné", foto propriedade de Valdemar Pereira (clique na imagem)
No semanário "Expresso" de 30.Dezembro.2008 dizia-se também: «O português Adelino Mendes, condecorado por Fidel Castro pela sua participação na Revolução Cubana, integrou em 1936 a Revolta dos Marinheiros contra Salazar, em Lisboa, tendo-se refugiado em Cuba durante a II Guerra Mundial. Filho de humildes camponeses da Serra da Lousã, Adelino Mendes, que apascentara ovelhas e cabras antes de ingressar na Armada, juntou-se aos comunistas do Partido Socialista Popular (PSP, marxista-leninista), em 1941, e veio a participar activamente na Revolução Cubana. Em Havana, onde chegou a bordo do navio "Guiné", foi recebido pelo secretário-geral dos comunistas cubanos, Blas Roca.»

A foto abaixo, onde não surge o Monte Cara mas que é decerto da mesma altura, e do mesmo local, está patente no excelente blogue sobre coisas do mar "Ships & The Sea".

O "Guiné" - Devida vénia ao blogue "Ships & The Sea" (clique na imagem)

9 comentários:

  1. Obrigado, Amigo Djack. A foto veio-me por herança. Não sei como não foi parar ao lixo ou na colecção de um individuo que se apresentou logo apôs a morte do meu pai e levou um grande nùmero de fotografias que nunca consegui recuperar.
    Sinto-me imensamente feliz de colaborar com esta foto no Praia de Bote, dando a ocasião a alguns de reviver e a outros de saber.
    Mantenha

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    1. Será que me pode informar se o Guiné em 46 aportava obrigatoriamente nas Canárias durante a viagem para Lisboa? Muito obrigada.

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    2. Em 1942/43 viajei no "Guiné" de lisboa para o Mindelo e regresso. Nessas viagens o navio escalou apenas Funchal, na ida como na volta. Certamente terá ido à Praia e a Bissau, mas não às Canarias.

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  2. Sempre ouvi falar deste navio, mas tenho de confessar que não me recordo de o ter visto fundeado na nossa baía, embora isso pudesse ter sido uma possibilidade se, na década de 1950, ainda estivesse em actividade. Ou talvez não, já que, consultando por mero acaso um site de nome "O mar do poeta" encontrei dados que referem que ele foi construído em 1877 e chamou-se primeiro "Açor", tendo sido adquirido pela Companhia Nacional de Navegação em 1907. Portanto, era à data da II Guerra Mundial, década de 1940 um navio j+a bastante velho. Mas consultem o site que eu referi porque é extremamente rico e elucidativo sobre a nossa antiga frota.

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  3. Boa noite! Recomendado pelo amigo Valdemar Pereira, chego até a Praia do Bote e vejo que muito há para ler sobre essa alegre e colorida região, que, sob vários aspectos lembra o meu Brasil.Pelo pouco tempo de "navegação" pude ver quito há a ler e conhecer.Se quiser me dar o prazer, visite também o meu site. Muito prazer.

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  4. Foi um prazer rever o navio que me levou e toda a minha familia em 1947 de Lisboa paera S.Vicente. Recordo-me perfeitamente do navio Guiné como està na segunda foto. A chaminé està pintada com as cores da Companhia Colonial de Navigaçao.Foi uma aventura essa viagem. O navio era ja velho e balouçava muito. Tinha na altura sete anos. Se me recordo bem poucas viagens mais fez.Fernando

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  5. Agradecimentos ao quatro comentadores acima presentes, um dos quais recente "fornecedor" de material de primeira água - neste caso, literalmente (não desfazendo nos outros dois mninim que de igual modo têm contribuído e bem). É sempre um prazer ver os vossos comentários.

    Pela primeira vez, um comentário (que também se agradece) vindo do Brasil, país que é o segundo mais presente em cliques, depois de Portugal. França é o terceiro, EUA o quarto e só depois Cabo Verde que assim se fica em quinto lugar.

    Pensemos no entanto que nos outros quatro países há imensos cabo-verdianos e que são de facto eles os grandes fregueses deste PRAIA DE BOTE.

    Um braça pa tude munde!!!

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  6. De Nova Yorque,

    Mostrei a pagina ao meu pai que com 91 anos se lembra muito bem a viagem de ida e volta quande enfermeiro ta tropa portuguesa durante a segunda grande guerra

    Obrigado pelas recordacoes

    Joe Eugenio

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  7. Cara Senhora:
    Vejo, por mero acaso, a sua pergunta que passo a responder. A Guiné so episodicamente aportava nas Canàrias.
    Lembro-me de numa dessas viagens levava um inglês da Western Telegraph (Ronion) que terminava o seu contrato na Ilha do Porto Grande e ia para a Inglaterra via Lisboa. Num dos portos canarinos apareceu um submarino alemão que o levou mas ele teve tempo de desfazer-se de uma "mala" que levava. A dita cuja tinha correspondência sensivel do tempo da Guerra que podia cair muito mal.

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